Falando um pouco sobre cultura afro: O CABELO

África na cabeça
Visual étnico: tranças, cortes e penteados afro para quem tem orgulho da raça





A história de um povo pode ser contada pelos costumes, nos livros e até por meio da moda. Os cabelos, seus cortes e penteados também são registros importantes no quebra-cabeça que narra a trajetória da civilização.
A África, mais que qualquer outro continente, influencia e inspira o mundo com sua diversidade cultural. Além dos ritmos, das cores, da culinária e da herança genética, a cultura negra é referenciada na arte que nasce de tranças e penteados afro.
Nos anos 70, o black power surgiu como moda e conquistou cabeças de todas as cores. No Brasil, artistas ajudaram a difundir o estilo. Toni Tornado, Tim Maia, Zezé Mota e Caetano Veloso foram alguns.
Mas os cabelos afro não se resumem a um só estilo. Tranças, apliques, tiaras e dreads estão com tudo e não apenas na comunidade negra. “Os penteados afro estão na moda”, observa a trançadeira Renata Nogueira. Autodidata, Renata aprendeu a arte de trançar cabelos há 13 anos. “Agora todo mundo acha bonito”.
Pelas mãos da trançadeira já passaram artistas, celebridades e jogadores de futebol. “Hoje em dia, tenho mais clientes brancos que negros”, calcula. Se muitos brancos estão bebendo da fonte da beleza afro, os negros aproveitam para desfilar pelas ruas um dos símbolos da sua etnia. “Quando assumo meu cabelo afro e minha negritude, fortaleço a minha raça”, diz Renata.
A moda e principalmente o clima tropical do Brasil transformaram as tranças e os penteados afro em uma espécie de onda contra o cabelo liso e escorrido, até então queridinho das cabeças femininas. “Tem dia que faço 20 tranças. A procura pelo visual afro tem crescido e muito”, diz a trançadeira Vilma de Oliveira.
Com 14 anos de experiência no cuidado de cabelos crespos, Vilma diz que a sociedade está se abrindo para as etnias. Para ela, o visual que antes afastava chances de emprego e até de namoro, agora já faz parte do cotidiano. “Virou coisa comum. Há loiras que fazem tranças afro”, destaca.
Um abuso de bacana
A estudante Thayane Silveira não abre mão das tranças desde a infância. “Não gostava quando as crianças riam de mim na escola, mas sempre usei”, diz. Solta, de raiz ou com fios sintéticos, Thayane usa e abusa dos variados estilos e só solta os cabelos quando é preciso hidratá-los. “Normalmente é uma semana. Tiro a trança, hidrato e já coloco outra”, conta.

A balconista Sidinéia Estevam gosta mesmo é de brincar com os cabelos. Lisos, trançados, encaracolados ou com apliques, ela usa todos os tipos. Entre os diversos estilos de penteados que os cabelos crespos permitem, Sidinéia elegeu a trança com aplique como preferida. “Acho que fica mais bonita e é muito mais prática”, opina.


A gerente de atendimento Juliana Teles exibe a trança em formato de tiara. Para ela, a cultura afro está tão na moda que os homens, até então tímidos, estão assumindo as cabeleiras trabalhadas pelas mãos das trançadeiras. “Meu namorado usa e eu acho lindo”, conta. A tendência é confirmada por Vilma, que viu a quantidade de homens dobrar e ultrapassar as mulheres. “Hoje, os homens representam mais de 60% dos clientes”, comemora a trançadeira.


Marca registrada


As tranças grossas viraram marca registrada da cantora Paula Lima. “Vi o visual em um filme e resolvi adotar. Adorei e não uso outra coisa”, diz. Paula já usou cabelos lisos, escovados e encaracolados, mas a praticidade e o look que as tranças deram ao seu rosto, conquistaram de vez a cantora. “Antes, eu tinha que dormir com o cabelo enrolado, acordar uma hora antes para cuidar dele. Hoje, já levanto pronta”, comemora.
Paula orgulha-se de ter criado um estilo próprio. “Ninguém usava tranças grossas. Muitas pessoas, até estrangeiros me perguntam de onde é a trança. Fui eu quem criou”, diz. Além das tranças, a cantora é quem orienta sua cabeleireira sobre os penteados que vai usar. “Vou inventando e pedindo para ela fazer”, diz. O estilo de Paula ficou tão marcado que acabou virando nome nos salões brasileiros. “As pessoas pedem o cabelo da Paula Lima. O cabeleireiro já sabe que é para fazer trança grossa”.


Sem preconceito: mercado é um grande aliado contra a discriminação de raças


Um continente na passarela


Se até pouco tempo as loiras e brancas reinavam absolutas nas passarelas, hoje o mercado descobre que a diversidade étnica é importante para a construção da imagem da moda brasileira.
“As negras estão trabalhando tanto quanto as brancas”, observa a agente de moda Cris Fernandes. Enquanto elas superam obstáculos, os homens ainda brigam para conseguir espaço no universo fashion.
A modelo Fabíola Mariano comemora a agenda lotada de compromissos profissionais. Mas no início da carreira, há cinco anos, não foi bem assim. “Para mim não bastava ser a única modelo negra, eu tinha que ser a melhor”, lembra. Mais experiente e confiante, a modelo conta que é preciso ter personalidade para superar preconceitos.
A atitude de Fabíola também está na cabeça e nos balangandãs que usa dentro e fora dos desfiles. “Faço tranças e adoro apliques. Brincos, eu prefiro os grandes”, brinca. Quando não está trançada, a cabeleira da modelo fica solta e bem armada. “É importante assumir a sua cor e não se transformar para parecer outra”, opina. A atitude é encorajada por Cris. “A beleza natural está em alta”, avalia.


Prata da casa


Na comunidade negra de Campinas é difícil encontrar alguém que não conheça a cabeleireira Fátima Balbino. Há 20 anos cuidando de cabelos afro, Fátima é uma das raras profissionais a dominar técnicas, como o dread costurado. “Em Campinas só eu faço”, diz. Há 14 anos, a cabeleireira abriu um salão no centro de Campinas, onde produz os mais diversos de tipos de tratamentos, penteados e cortes.
“A indústria de cosméticos descobriu os cabelos afro e começou a investir. Hoje em dia, temos diversos produtos”, observa. Para a cabeleireira, o interesse do mercado é um aliado contra o preconceito que, segundo ela, ainda existe, mas a conquista é feita de cabeça erguida e com um penteado cuidadosamente esculpido na cabeça.


Quanto custa


Para fazer a cabeça, bastam um profissional que entenda do riscado e alguns reais na carteira


1 - Trançar o cabelo é barato, porém os ornamentos encarecem o procedimento. Tudo depende da complexidade da trança, do tamanho do cabelo, da quantidade e qualidade dos fios sintéticos que serão aplicados.


2 - A trança mais simples, chamada de tiara, custa em média R$ 20,00.


3 - A trança de raiz, que não usa apliques de fios sintéticos e são mais usadas pelos homens, fica em torno de R$ 40,00.


4 - Os dreadlocks, tranças usadas pelos rastafaris e marca do cantor Bob Marley, são as mais caras e trabalhosas. A opção mais simples não sai por menos de R$ 100,00. As mais elaboradas chegam a
R$ 350,00.


5 - Em comparação com métodos para alisamento, trançar cabelos sai muito mais em conta. O custo de uma escova definitiva chega a R$ 1 mil.


Os modelos que levam o canecalon custam a partir de R$ 70,00. Se o cliente preferir um fio sintético de qualidade superior e de comprimento maior, o preço pode chegar a R$ 150,00.


Nossas fontes



Fátima Cabeleireiras Afro, f. 3237-2304



Maanaim Cabelereiros, f. 32261718



Cia de Produção/Cris Fernandes, f. 3253-1672



Vania’s Cabeleireira, f. 3809-3330



Paula Lima, www.paulalima.com.br

Um comentário:

  1. Acho muito importante a inclusão social na escolas publicas, porém este ato não é somente matricular uma criança "especial" em uma escola, para conviver com crianças que não tem conhecimento desta situação, para se tornar realmente uma inclusão, deveria ter o conhecimento e esclarecimento a todos, inclusive aos pais dos alunos, para que a criança fosse tambem preparada para receber este amigo(a) diferente, não se pode colocar uma criança para servir de "chacota" ou sofrer preconceito, por outras crianças, um preparo para as educadoras, saber como lidar com estas situações, mas que esta responsbilidade não seja tão somente destas, pois a inclusão é social não somente na escola, portanto todas as crianças devem aprender tambem a conviver com esta situação.

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